sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Onde o carinho vira remédio

por Joana Peruzzo

Há 26 anos, a Fundação de Pais Pró-Saúde Mental Infantil (Fupasmi) é responsável pelo atendimento especial de crianças, jovens e adultos portadores de necessidades especiais. A maior preocupação é a de ambientar essas pessoas numa sociedade que ainda as vê como incapazes de evoluir ou demonstrar algum afeto.

Oito funcionários especializados e apenas dois estagiários integram a equipe da Fundação que atende 23 pessoas, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. São atendidos autistas, psicóticos, pessoas com problemas emocionais, esquizofrenia, distúrbios mentais e de conduta. A questão é que, desse total de beneficiados, apenas sete estão recebendo tratamento pago pelos familiares. Os outros 16 são oriundos da Fundação de Proteção Especial (FPE) do Rio Grande do Sul, sistema de atendimento que antes era administrado pela extinta Febem. Esses jovens foram amparados por serem vítimas de violência, negligência, abuso sexual e abandono. Hoje compõem um grupo que merece total acompanhamento. São donos de um futuro incerto e de uma história que ninguém quer lembrar.

A Fupasmi é uma instituição privada, administrada voluntariamente por pais que querem que o mundo sinta a presença dos seus filhos, sem discriminação e sem descaso. Funciona de manhã e à tarde com turmas divididas de acordo com a idade e patologia, organizadas por cronograma de atividades que se moldam conforme a necessidade de cada um. Porém, além de faltar verba pública e incentivo governamental para mantê-la, a instituição carece de pessoas que se disponham a trabalhar apenas em troca de reconhecimento.
Carla Albuquerque é formada em Pedagogia e especializada em Educação Especial. Trabalha há 16 anos na Fupasmi e conta que, mesmo que o voluntariado aconteça uma vez por semana, as pessoas não suportam a carga do sofrimento psíquico dos pacientes. “Geralmente as pessoas que querem voluntariar aqui, perderam algum amigo próximo ou familiar. Elas tentam, através desse envolvimento, preencher o espaço deixado por alguém”, explica Carla.

A tendência é que essas “crianças” tenham a oportunidade de levar uma vida muito próxima da normalidade. Mas é preciso entender que o objetivo se traduz num desafio. Todas elas são dignas de muita atenção, para que se possa conhecer a habilidade e personalidade de cada uma. Sem dúvidas é um exercício complexo, que exige mais carinho e mais afeto. As pessoas que trabalham na Fupasmi conhecem cada indivíduo e seus trejeitos. Ao conhecer o acolhimento dessas pessoas com a vida abreviada pela doença, defende-se uma prática em que cuidar vale mais do que curar.

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