sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A qualidade e as possibilidades do Ensino Superior

O desenfreado surgimento de universidades privadas no país coloca em risco o futuro de dois aspectos inerentes à graduação: o vestibular e a qualidade do Ensino Superior. Pode-se perceber pela queda do modelo tradicional do curso pré-vestibular. As tradicionais aulas-show que antes eram movidas a graças e macetes perderam espaço para aulas mais centradas, exigidas por um novo perfil de alunos que pretende garantir uma vaga realmente concorrida na universidade. As salas de aulas que, nos anos 70 e 80, comportavam 300 alunos diminuíram, e bastante. Para muitos não é valido estudar tanto para entrar numa universidade federal se é possível ingressar em muitas faculdades particulares por preços bem acessíveis. Tem lógica.

A expansão do Ensino Superior começou em 1995, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) distribuiu entre 70% e 80% do orçamento do Ministério da Educação (MEC) que atendia apenas a 22% dos alunos de graduação da rede pública federal. FHC foi o protagonista do período que tinha como objetivo marcar o início de um novo estilo de desenvolvimento. Com os incentivos que a rede privada de ensino recebeu, juntamente com a implantação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 1998, ficou difícil manter o vestibular como o mecanismo de acesso à universidade. A última pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) aponta que hoje são em média 2.260 instituições de ensino superior no Brasil contra as 894 que havia em 1995.

Com isso, fica cada vez mais trabalhoso para os cursinhos captar alunos e mantê-los. Ainda que o MEC tome medidas tardias na tentativa de frear a proliferação de universidade de baixa qualidade, os pré-vestibulares terão que readequar o modelo de mercado. Pois, mesmo que sejam homologadas novas regras, instituídas pelo Conselho Nacional de Educação, para o credenciamento e recredenciamento de universidades o número de cursos abre um leque muito grande de opções. O Rio Grande do Sul, por exemplo, soma hoje 1.570 cursos superiores, ganhou 1.060 no decorrer dos dois mandados do governo FHC (1995 a 2002). Por isso, o vestibular vai continuar existindo apenas para cumprir as obrigações legais do MEC, porque, na verdade, quem presta a seleção geralmente passa. A expectativa então é que até 2015 o Enem seja o método definitivo para ingressar no Ensino Superior.


A nada dura vida de Rubens Barrichello

O piloto Rubens Barrichello foi o primeiro brasileiro a pilotar uma Ferrari, uma das escuderias mais importantes do circuito de fórmula 1, onde se sagrou vice-campeão por duas vezes. Mas a verdade é que o paulista de 38 anos não goza de grande prestígio entre o público brasileiro. Acusado de sempre andar à sombra de Schumacher, Rubinho é o campeão em participações em Grandes Prêmios: 303 corridas. Mas em número de vitórias deixa bastante a desejar, são apenas 11 nos 17 anos de carreira e nenhum campeonato conquistado.

É verdade que o episódio de 2002, quando Barrichello deixou o seu parceiro de equipe passar e vencer o Grande Prêmio da Áustria ficou na memória dos brasileiros, mas a dificuldade em conquistar o carisma do público vai muito além de fatos isolados e tem um nome: Ayrton Senna. Falecido heroicamente em um acidente em 94, Senna era um grande ídolo do público brasileiro e foi o responsável por parar o país nas tardes de domingo em frente à TV torcendo pelo piloto. Agora, no mês de novembro, mais de 16 anos após sua morte, é lançado um filme em sua homenagem. Produzido pela Universal, uma gigante da sétima arte, o longa documentará a vida de Senna e como ele entrou para a história.

Barrichello muito provavelmente nunca ganhará um filme. Mas será mesmo que ele se importa com isso? Mesmo com o segundo pior salário da Fórmula 1 no ano passado, ele ganhou cerca de R$ 1,7 milhão, isso sem contar com os patrocínios e o ganho em publicidade. Não, ele não deve estar tão mal assim. Para se ter uma idéia, Giba, eleito duas vezes o melhor jogador de vôlei do mundo, ganhou pouco mais de R$ 1,4 milhão. Não que seja uma quantia pequena, mas convenhamos que os feitos deste último atleta são bem mais louváveis. O Santos, no ano passado ofereceu R$ 1,5 milhão por ano à Marta, eleita melhor jogadora de futebol do mundo por quatro anos consecutivos e fenômeno diversas vezes comparada a Pele.

Parece justo ver Rubens Barrichello, cuja única emoção que proporciona ao Brasil ultimamente é a da vergonha, ganhando quase dois milhões por ano? Não, mas parece que ele não está nem um pouco incomodado com isso.

Eleição sobre rodas

Por Laís Scortegagna

Aconteceu em Ribeirão Preto, em Uberlândia, em Cabo de Santo Agostinho, aconteceu comigo. Segundo a Justiça Eleitoral, 169 mil eleitores com deficiência votariam dia três de outubro. Esse número se refere apenas aos eleitores com alguma deficiência que se recadastraram. Eu deveria constar nesta estatística. Mesmo assim, isto não foi o suficiente para evitar que a seção 29 da zona eleitoral 94 fosse instalada no segundo andar do colégio onde voto.

Inúmeros foram os casos. São Paulo, São Luís, Brasília, Aracajú, Hortolândia. Todas registraram ocorrências de dificuldades para votar, ou pior: o impedimento da votação. Foi o que aconteceu em Viamão e Esteio. Impedidos de votar, os cadeirantes foram “instruídos” a justificar o voto. E foi o que fizeram. Em outras cidades quem não aceitou foi carregado – na maioria, por outros eleitores e familiares – escada acima e abaixo para poder votar. E correndo riscos. Seria este o procedimento padrão? Impedir o direito e dever de exercer a cidadania?

A resposta é não. O direito ao voto é garantido pelo código eleitoral, que também garante, no artigo 234, que ninguém poderá impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio (que é um nome metido a besta para voto). O impedimento, perturbação ou obstrução do voto é ainda crime eleitoral. E a pena prevista é detenção por até seis meses e pagamento de multa. Isso significa que muitos mesários, presidentes de mesa e demais envolvidos nas tentativas de convencer os cidadãos a justificar o voto cometeram um crime. Não apenas eles mas também os que forçaram estas pessoas a serem carregadas até suas seções. É embaraçoso, não é?

O que deveria ter sido feito, estão? Exatamente o que foi feito em Manaus. A urna eletrônica foi desligada e conduzida até o térreo do prédio em que se localizava a seção eleitoral, onde a seção foi reaberta. O exemplo no Brasil, entretanto não partiu do presidente de mesa nem dos mesários. O Ministério Público e  o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas tiveram que intervir. O mesmo foi feito em Cabo Frio. 

Em Iraí, o TRE culpa o diretor do colégio Visconde de Taunay. O colégio culpa o mesário que recorre a um funcionário do TRE, que também culpa o colégio. E assim segue sem que ninguém assuma a responsabilidade que, na verdade, era do presidente de mesa. São feitas reuniões em todo o país para instruir os mesários para o dia da votação. Assim sendo, estes cidadãos deveriam saber que providências tomar. Mais que isso. Deveriam saber que o que fizeram nos quatro cantos do Brasil é crime. Crime sim. Como em Olinda, onde pelo menos cinco cadeirantes foram impedidos de votar.

Mas talvez o pior tenha sido a criação das chamadas seções especiais em algumas cidades. Nelas a votação ocorreu tranquilamente – para quem se recadastrou. As seções especiais e a necessidade de recadastramento serviram de desculpa para o não cumprimento do inciso 6.A do artigo 135 do código eleitoral. Que diz que “os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais, para orientá-los na escolha dos locais de votação de mais fácil acesso para o eleitor deficiente físico”.

Pior ainda algumas matérias que trataram situações como essa como "exemplos de cidadania". Essas situações não são exemplos de cidadania mas sim de três "DES": descaso, desrespeito e desorganização.

Mas não se trata apenas de pessoas com deficiência. A acessibilidade deveria ser um direito de todos. Ainda mais no exercício da cidadania. Na mesma seção que eu votava uma senhora idosa chegou com dificuldade respiratória. Muitos outros idosos e pessoas com algum outro problema de mobilidade ou de saúde sofreram com os degraus nessas eleições.

O voto é um direito e um dever de todos nós. Acesso sem constrangimentos não é pedir demais. Comuniquei a chefe do TRE da minha região sobre o caso, que me garantiu que o problema não se repetirá. Espero que nem aqui nem em nenhum lugar no Brasil.

DINHEIRO NO BOLSO

por Horacio Guigou


Nos últimos dias as lotéricas estavam repletas de sonhadores e possíveis milionários. O acúmulo do prêmio da Mega-Sena mobilizou todo o Brasil atrás de um único objetivo: ganhar R$ 115 milhões. A probabilidade de ganhar a bolada é remota, por isso, devemos ir por meios mais fáceis para integrar o seleto grupo dos ricos.

A receita “a la brasileira” para enriquecer começa pelo estudo. Não pense você que é aquele estudo padrão para se tornar alguém importante por mérito próprio. A dedicação da qual falo é a necessária para passar em um concurso público, de preferência para um cargo de importância dentro de um Senado ou algum Tribunal de Contas para o nordeste. Caso você alcance tal feito estará no caminho certo para a “felicidade”.

No Senado talvez você possa participar do seleto grupo de servidores que recebe horas extras durante o recesso no período de Janeiro. E o melhor é que o prejuízo é pequeno se comparado ao prêmio sorteado pela Caixa Econômica Federal, não chega nem aos R$ 7 milhões.

Se o seu interesse e ambição vão um pouco além de horas extras, concorra para o TCE do Amapá, mais especificamente. Foi lá que o presidente, autoridade maior da entidade fiscalizadora, conseguiu comprar uma Ferrari e um Maserati, além de um jato particular. Isso tudo com apenas alguns desvios de verbas e o parecer favorável de contas exorbitantes. Enfim, poderia citar aqui diversas maneiras de se enriquecer com um pouco de malandragem, mas prefiro não dar margem a novas idéias por parte dos mais atentos.

Escândalos com o Banrisul, agências de publicidade, entidades e figuras públicas lotam as páginas dos jornais. Sorte é do gaúcho de Fontoura Xavier que ganhou um caminhão de dinheiro limpo com a escolha de apenas 6 números. Dinheiro limpo? Será?